Com cenário de polarização e prazo curto para inscrição das chapas, eleição marcada para o dia 25 pode marcar o retorno de uma disputa real pelo comando da entidade após mais de três décadas
Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da FPF — Foto: Raul Baretta/ Santos FC
O clima nos bastidores da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é de intensa movimentação desde que o interventor Fernando Sarney oficializou a convocação da eleição para o dia 25 deste mês. Após anos de presidentes eleitos por aclamação, tudo indica que desta vez haverá, de fato, uma disputa pelo cargo máximo do futebol brasileiro — algo que não acontece desde 1989.
Dois grupos se articulam nos bastidores. De um lado, 19 federações estaduais que assinaram um manifesto conjunto na última quinta-feira buscam consolidar um nome para encabeçar uma chapa. Entre os mais citados estão Samir Xaud, atual presidente eleito da Federação de Roraima, e Felipe Feijó, da federação de Alagoas. O nome de Ricardo Gluck Paul, da Federação Paraense, também está em consideração. Essa ala tem buscado apoio junto a clubes das regiões Norte e Nordeste, com a ideia de anunciar um candidato de forma unificada.
Apesar de já contarem com um bloco significativo de votos — considerando o peso triplo dos votos das federações na eleição —, ainda há movimentações para angariar adesões de outras entidades. A federação do Mato Grosso do Sul, que inicialmente havia aderido ao manifesto dos 19, comunicou nesta sexta-feira que fará sua escolha de forma independente.
No campo oposto, ganha força a possibilidade de candidatura de Reinaldo Carneiro Bastos, atual presidente da Federação Paulista de Futebol. Seu nome circula entre as oito federações que não assinaram o manifesto, como Bahia, Pernambuco, Espírito Santo, Minas Gerais, Tocantins, Amapá e Mato Grosso. Há ainda expectativa de que outras federações possam migrar para esse bloco.
Reinaldo tenta construir sua base a partir dos clubes, aproveitando o desgaste de parte deles com os rumos recentes da gestão da entidade. Ele chegou a se apresentar como pré-candidato entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024, quando Ednaldo Rodrigues foi afastado. Naquela ocasião, Flávio Zveiter também estava na disputa, mas o retorno de Ednaldo ao cargo frustrou qualquer avanço eleitoral.
Agora, com o afastamento de Ednaldo mais uma vez e a condução provisória da CBF sob intervenção judicial, Reinaldo retoma as articulações. “Não está descartado que alguns nomes que hoje estão em um bloco mudem de lado até a data limite para inscrição das chapas, que é a próxima terça-feira”, afirmou uma fonte próxima à negociação.
Cada chapa precisará do apoio formal de ao menos quatro clubes e quatro federações para se oficializar na disputa. A composição do colégio eleitoral soma 141 votos, distribuídos da seguinte forma: 27 federações (peso 3), 20 clubes da Série A (peso 2) e 20 clubes da Série B (peso 1).
Fernando Sarney, nomeado como interventor por decisão judicial, se reuniu nesta sexta-feira com lideranças de ao menos oito federações na sede da CBF. Ele garantiu que não participará da eleição como candidato e reiterou o compromisso de realizar o pleito com celeridade e transparência.
“Não fico muito tempo. Meu papel é garantir que o processo aconteça”, declarou a dirigentes presentes.
Enquanto isso, os clubes ainda definem seus posicionamentos. A Liga Forte União deve se reunir neste sábado no Rio de Janeiro para avaliar os próximos passos. Marcelo Paz, CEO do Fortaleza, esteve presente em um simpósio no Fluminense e comentou os bastidores. A Libra, por sua vez, também realizou uma reunião na sexta-feira — e embora o encontro já estivesse agendado, o futuro da CBF acabou dominando a pauta.
No plano jurídico, Ednaldo Rodrigues ainda tenta reverter seu afastamento. Na noite de quinta-feira, ele entrou com recurso no Supremo Tribunal Federal. Paralelamente, o STF julgará no próximo dia 28 a ação que questiona a legalidade do acordo entre o Ministério Público do Rio de Janeiro e a CBF, o que pode ter reflexos sobre a validade das decisões recentes da entidade.
A corrida eleitoral está aberta — e promete ser uma das mais movimentadas da história recente do futebol brasileiro.
Fonte: Jogo de Hoje 360